Afinal temos fome de quê?
Comemos por fome e comemos por muitas outras razões. Se não é fome, então o que é?
Rute Domingues (Nutricionista C.P. 2144)
2/20/20242 min read
Sensação de estômago vazio, dores de cabeça, dificuldade de concentração, irritabilidade, tremores, podem ser sintomas de fome. No entanto, todos nós já quisemos comer alguma coisa, sem ter nenhum destes sinais. Como se costuma dizer, não é bem fome, é vontade de comer. Comer sem fome, mas por vontade, é muitas vezes visto como um problema. “Não tinha necessidade de comer aquilo, nem tinha fome… para que é que fui comer?”. É verdade que a principal função dos alimentos é dar-nos energia e nutrientes, mas isso não significa que seja a única função. Além da fome, há outras razões perfeitamente válidas para decidirmos comer, como por exemplo: comer por prazer, ou porque queremos fazer parte de um momento social, ou ainda para compensar alguma emoção. Hoje, quero falhar-lhe sobre esta última, que é muitas vezes referida como sendo a fome emocional. Comemos porque estamos tristes, stressados, cansados, chateados, porque nos sentimos sozinhos ou aborrecidos. Vemos isto representado frequentemente nos filmes, em que depois de um desgosto amoroso a personagem fica no sofá a comer um balde de gelado. Mas nem precisamos de ficção para entender isto, porque todos nós, em algum momento, já sentimos fome emocional.
Muitas vezes, ouço na consulta “tenho que ter mais força de vontade nesses momentos e simplesmente não comer”. Achamos que se tivéssemos mais força de vontade conseguiríamos resistir, mas eu tenho que lhe dizer a verdade: as coisas não funcionam bem assim. A comida está lá para nos ajudar a preencher um vazio, tem um propósito, não está a ser um problema, mas sim uma solução! O que acontece a um banco se lhe cortar uma perna? Exatamente, cai! Se a comida estiver a ser uma perna do nosso banco, não será uma boa ideia cortá-la, não sem antes lhe colocar um outro apoio. Por isso, não basta ser forte e dizer que não, é preciso ser consciente do que está a sentir, das suas necessidades, para depois decidir usar, ou não, uma outra estratégia que não a comida. Por exemplo, se percebe que quando chega a casa, come porque está com o stress do trabalho, faça alguma que o relaxe e descontraia um pouco nessa altura.
Respondendo à pergunta do título, mas afinal temos fome de quê? Nem sempre temos fome de alimentos, às vezes temos “apenas” fome de tempo, fome de diversão, fome de companhia, fome de um abraço ou fome de descanso. Lembre-se disto na próxima vez que estiver no sofá a pensar que precisa de comer alguma coisa e pergunte-se que emoção está a tentar comer.
Crónica publicada no Diário de Aveiro
Nutricionista
Cédula Profissional nº 2144N
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